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sábado, 6 de abril de 2013

Com creme



 

        
        Ela queria encontrar um modo de nao mais pensar nele. Talvez esquecer a memória incompleta de tudo aquilo fosse melhor. Não ia dar em nada. Ou não. Sei lá...
Não dava pra saber sobre o que ele pensava. Talvez, ele queria encontrar um modo de encontra-la. Mesmo que escondido, encoberto em cada ato singelo e simples. Mesmo coberto de racionalidade. Talvez eles quisessem, sem dizer abertamente, se tocar, se aproximar de um modo mais efetivo. Além do trivial. Além do comum e normal. Mesmo estanto lado a lado sempre, olhando um no olho do outro, mas com barreiras imensas abismando os limites. 
        Mas, tudo bem. A vida não é como queremos. E assim eles seguiam vivendo vidas paralelas que se entrelaçavam, um dentro do outro. Os dois dentro do alcance dos olhos e das mãos, mas amarrados e  acorrentados por convenções sociais inúteis. Coisas que eles nem concordavam. A dor da duvida. Embora seja o preço da pureza, as vezes vem carregada de tristeza.
        Até que um dia eles nao se pensaram mais.
Ela nao se lembrou dele ao acordar, ele nao imaginou seu perfume antes de sair de casa. Ela parou de ler o livro que tinha o nome dele no título. Ele parou de assistir os filmes que ela tinha indicado. Os dois se encontraram na cantina do centro da cidade, com a roupa de todo dia. Ele com os cabelos com gel de efeito molhado, ela com a alma lavada. Sorriram, se cumprimentaram com os olhos e beberam juntos uma vitamina. Pra ele? A de sempre. Ela quis sair da rotina.  Seria o marco inicial da mudança.
-Com creme, por favor.
Ele sentado na mesa do canto, ela em pé ao balcão. Ela pagou a conta dos dois e saiu, coisa que ele costumava fazer. Ele continuou bebendo devagarinho o sua vitamina gelada, sugando continuamente a espuminha do leite que nao mais existia. 
       Porém o desejo permaneceu quente. Pairando. Doce e suspenso no ar.